Minas Gerais possui atividade minerária em pelo menos 250 dos seus 853 municípios, o que torna a mineração um elemento chave para a conformação territorial do estado. Porém, somente nos últimos anos, todo o país têm visto com maior intensidade a face mais perversa do modelo de mineração adotado nesses locais. Os episódios de rompimento das barragens de Mariana em 2015 e Brumadinho em 2019 trouxeram à tona o poder de destruição desse sistema predatório de exploração, já há muito tempo denunciado por movimentos sociais, povos e comunidades atingidas.
A série “Minas de Resistência”, idealizada pelo Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular, com apoio do Fundo Casa, da campanha Ninguém Fica Pra Trás e em parceria com o Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM, pretende trazer visibilidade a diversos temas ligados à presença devastadora da mineração em Minas Gerais e, em especial, na vida das mulheres. A partir desta semana até o mês de dezembro, publicaremos artigos, depoimentos e peças para redes sociais que evidenciam os danos causados para as populações atingidas pela mineração.
Em sua maioria do campo, esses povos e comunidades são afetados com a perda de seus territórios, a desintegração de seus modos de vida, destruição de recursos naturais, o rompimento com suas raízes sócio-culturais, além do convívio rotineiro com o barulho e a poeira. Nas cidades, também são muitos os danos, como o grande fluxo de caminhões, a chegada de grande contingente de trabalhadores nas fases de instalação desses empreendimentos e o inchaço populacional.
Para as mulheres, em sua grande maioria responsáveis pela sustentação dos territórios, seja a partir dos trabalho de cuidados – saúde, educação, alimento -, seja a partir do trabalho da agricultura, pesca, extrativismo, artesanato, etc, essa realidade é ainda mais dramática. Não é à toa que a maioria das pessoas à frente das organizações populares e comissões de negociação junto às empresas de mineração são mulheres, muito embora não haja visibilidade sobre esse fato. Por isso, é importante contar a história dessas mulheres e inserir o debate da mineração na perspectiva de seus direitos. Assim, a série “Minas de Resistência” dará também voz a essas mulheres, trazendo depoimentos e relatos das suas experiências de enfrentamento à mineração. As pessoas atingidas pela mineração têm gênero, raça e classe. A depender da associação desses fatores em cada uma delas, as violações de direitos humanos possuem uma forma específica, e isso precisa ser abordado.
Tal como aconteceu após o rompimento em Mariana, a população de Brumadinho passa agora por um processo de intensa dor, seja pela perda de entes queridos, seja pela perda de todo o roçado, plantio e garantia de sustento. Existem pessoas em total estado de abandono, medo, depressão, tristeza, com imensas dívidas para pagar e sem perspectiva para resolver essa situação num curto/médio espaço de tempo, sobretudo aquelas mais pobres. Segundo dados da Prefeitura de Brumadinho, houve na cidade crescimento significativo na prescrição de remédios ansiolíticos e antidepressivos para os moradores locais, bem como aumentaram as tentativas de autoextermínio.
Com a série que lançamos esta semana, queremos também chamar atenção para o descaso com o processo de reparação dessas comunidades após os rompimentos, trazendo uma análise do relatório final da CPI da Barragem de Brumadinho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que encerrou suas atividades na última semana, após seis meses de investigação sobre a tragédia-crime. Ainda como forma de contribuir com o processo de responsabilização das empresas mineradoras, buscaremos informações sobre a implementação da Lei 23.291/2019, que instituiu em fevereiro deste ano a Política Estadual de Segurança de Barragens.
Convidamos vocês a acompanhar a série “Minas de Resistência”, um projeto do Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular que visa contribuir com a denúncia do modelo desumano de mineração predominante em nosso estado, responsável por violações de toda ordem sobre nossas vidas e territórios. Visite o nosso site regularmente e siga nossas redes sociais para encontrar novos conteúdos produzidos pelas margaridas e nossos parceiros. Mineração não!