Dossiê levanta dados sobre acesso à internet de comunidades tradicionais atingidas por grandes empreendimentos em MG

Material que será lançado em maio foi elaborado pelo Coletivo Margarida Alves, considerando levantamento de dados de trinta territórios tradicionais em regiões do Jequitinhonha, Norte de Minas e Centro do estado.  

De que forma é possível compreender o fenômeno da exclusão digital ocorrido em territórios tradicionais em contexto de conflitos socioambientais? Para lançar sobre este tema um olhar aprofundado, o Coletivo Margarida Alves (CMA) elaborou o dossiê  “Acesso à Internet e o exercício de direitos”, detalhando os impactos discriminatórios associados às novas tecnologias digitais, a partir de uma pesquisa feita em trinta comunidades tradicionais de Minas Gerais. Em comum, elas têm a convivência de seus povos com grandes empreendimentos predatórios, responsáveis por diversas violações de direitos humanos, como o direito à água, à saúde, à terra e à informação.  

A pesquisa mapeou dados de comunidades das regiões Central, Jequitinhonha e Norte de Minas, lugares que convivem com as consequências da exploração de minério, eucalipto e também com o agronegócio. Relatos como falta de sinal e ausência de recursos para pagar um celular, um computador ou a própria mensalidade da rede virtual são pontos citados pelas pessoas entrevistadas como desafios referentes ao uso da internet e das tecnologias digitais. O levantamento busca entender como o acesso à internet interfere na garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais necessários de serem respeitados, principalmente quando se trata de áreas onde as atividades de grandes empresas agridem a existência de povos tradicionais. 

De acordo com Carolina Spyer, uma das advogadas populares integrantes do CMA e das responsáveis pela elaboração do material, a ideia de consolidar o dossiê surgiu a partir da percepção do coletivo de que, no cenário de pandemia mundial, a exclusão digital ficou bastante evidente, bem como a falta de acesso a diversos direitos fundamentais. “O projeto resulta da nossa vontade de construir, através de uma abordagem da advocacia popular, um documento de sistematização e análise da interconexão entre exclusão digital, comunidades rurais, povos e comunidades tradicionais, e conflitos socioambientais”,  explica. 

O trabalho contou com um processo de mobilização e aplicação de questionários em quilombos e comunidades atingidas pela mineração em Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Serro; Comunidades tradicionais do Alto-Médio Rio São Francisco em Buritizeiro, Januária, Pedras de Maria Cruz e Várzea da Palma ameaçadas pelo agronegócio; Comunidades geraizeiras do Vale das Cancelas em Grão Mogol, Padre Carvalho e Josenópolis prejudicadas pelas atividades de monocultura de pinus e eucalípto e também o Quilombo do Baú, em Araçuaí e Coronel Murta, onde conflitos fundiários se fazem presentes. Os questionários que compuseram o dossiê foram aplicados por parceiros, como o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM); a Comissão Pastoral de Pescadores (CPP); a Comissão Pastoral da Terra (CPT); e o Conselho Geraizeiro do Território Tradicional do Vale das Cancelas. Os dados foram coletados e passaram por um processo de padronização e análise para construção de gráficos, além de terem sido analisados juntamente com a pesquisa bibliográfica e documental.  

O dossiê traz uma abordagem do acesso à informação ou à internet como um direito humano, que deve ser garantido em atenção às realidades locais, privilegiando o diálogo em detrimento do monólogo em contextos de conflitos socioambientais. Também contempla a situação do acesso à internet no Brasil nos últimos anos, resgata as políticas públicas de inclusão digital e, finalmente, traz repercussões, recomendações e apontamentos para ações possíveis na construção de caminhos.

O material será lançado em maio, e compartilhado na íntegra no site do Coletivo Margarida Alves. Acompanhe!